Caio Fernando Abreu
Louco de speed, hash e solidão. Mudar, partir, ficar. Fomos despejados novamente, nos deram três dias de prazo. Vontade de ler Carlos Drummond de
Andrade:
Andrade:
Tudo somado, devias precipitar-te — de vez — nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
A casa agonizante. As pessoas andando pelo escuro, velas nas mãos, como fantasmas. Ou como crianças perdidas. Vontade de fugir para não ver esses — quantos? vinte, trinta? — olhos assustados pelas escadas, essas vozes baixas, esses sons ingleses, espanhóis, portugueses, franceses. Não ver, não ouvir, não tocar, não sentir.
O frio entra pelas frestas das portas e janelas. Tirados os panos das paredes e todos os disfarces, tudo fica feio, miserável. Alguém cagou dentro da banheira. Há montes de lixo pelas escadas e corredores. Fomos expulsos, não vale a pena arrumar mais nada, limpar mais nada. Esse lixo espalhado pela casa são os nossos sonhos usados, gastos, perdidos. Sinto ódio, não sei exatamente de quem ou de quê. O estômago vazio há mais de trinta horas, os cigarros filados aqui e ali, o dente quebrado em plena bad trip. Quero outra vez um quarto todo branco e um par de asas. Mesmo de papelão.
0 Qual seu infinito?:
Postar um comentário
Qual seu Infinito?